" Palavras... leva-as o vento "

As ondas rebentavam, mutilavam a costa. O mar estava em fúria, a Terra enlouquecera. O vento levava-me com toda a sua força, enquanto a água me gelava. A areia, aquela areia tão macia e suave de outrora, já não existia, e em seu lugar algo áspero me cortava. E, eu, era a solidão. Significava a fraqueza humana, a sua ganância, e se, ainda, restavam questões acerca da veracidade da lei do mais forte, estas haviam sido, na sua totalidade, consumidas. Não restavam almas, já nada restava a não ser a simples escuridão envolta de nevoeiro, puro, o cheiro intenso a enxofre, o roncar dos vulcões. O Sol, explodira, eu vira-o sucumbir. Transformara-se em biliões de estrelas cadentes, azuis, que aparentavam ser a única coisa além de mim que já não estava inerte, em pó, caminhando para o infinito.
Sentir aquela solidão, enfraquecia-me. Vivera durante centenas de vidas, rodeada de humanos, animais, seres vivos… e agora estava só. Somente com os quatro elementos, o fogo, a terra, o ar e a água. Eles eram-me. A Terra, era agora mais um material rochoso a flutuar no Universo, eu já não era nada, ali. Quem me dera ter fugido para Marte, onde os fugitivos, homens, viviam em sintonia com os pumens, habitantes de Marte. Antes do Fim, corriam rumores que até já existiam Homo-pumo-ens.
Quando tinha cerca de 368 anos, na crise de, mais uma, meia adolescência, lembro-me como ontem. Odiava estar com vida perto de mim. Ambicionava estar só. Era como se a vida, já não o fosse, vida. Era algo que, não concretamente porquê, me enfraquecia e me fazia desistir de tudo. Como se o oxigénio já fosse não suficiente, ambicionava mais, mais, cada vez mais. Porém isso não bastava, necessitava de respostas, respostas que nem perguntas tinham. Afinal que ser me estava tornando? Deixei de me reconhecer, já não era eu. Será que alguém ainda me reconhecia, ou eu teria sido sempre a mesma. O mesmo ser ignorante, e fútil de todas as horas. Perguntas e mais perguntas, rodeadas de escuridão.
E, assim, desenrolada entre papel, rasurado, esta é a história da rapariga que sonhava com a felicidade. Era, julgada, como feliz, alegre e verdadeira, todavia a sua alma estava enevoada pela escuridão. Fala-se, entre colapsos e divergências, que pairam pelo ar, mortíferos… avassaladores. Movida pelos ventos, recolhida pelas tempestades. Sofria, não em silêncio, ferindo almas e corações, mais fortemente que um punhal aguçado.
Depois, por vezes, por momentos, descobria que quando queria as coisas não as possuía, porém assim que as repulsava, elas caiam-lhe sobre as mãos. Mas uma vez, não são vezes. E nada se repete, e o mais grave surte quando mergulhamos na ilusão. (........)

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